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Azatioprina – Medicamento que serve para esclerose múltipla

A azatioprina é um pró-fármaco da 6-mercaptopurina, sintetizada pela primeira vez em 1956 por Gertrude Elion, William Lange e George Hitchings, numa tentativa de produzir um derivado da 6-mercaptopurina com melhor índice terapêutico. A azatioprina é um imunossupressor usado para prevenir a rejeição de transplantes renais, tratar artrite reumatoide, doença de Crohn e colite ulcerativa.

Azatioprina – Medicamento que serve para esclerose múltipla

A azatipriona também tem uso o seu off-label para esclerose múltipla que é praticado há mais de 30 anos. Além disso, como nós vamos ver mais adiante, o uso off-label dessa medicação é impulsionado principalmente por sua relação custo-benefício e administração oral, especialmente em países onde o acesso a terapias modificadoras da doença (TMDs) são caras e as aprovadas em bula são limitadas.

Composição química e os usos comuns da azatioprina 


A azatioprina (formula química: C9H7N7O2S) é uma tiopurina (classe de medicamento imunossupressor), especificamente uma 6-mercaptopurina na qual o hidrogênio do grupo mercapto é substituído por um grupo 1-metil-4-nitroimidazol-5-il.

estrutura química da azatioprina

Essa medicação é um pró-fármaco da mercaptopurina e é utilizada como imunossupressor, sendo geralmente prescrita para o tratamento de condições inflamatórias e após transplante de órgãos, além de também poder ser indicada para o tratamento da doença de Crohn e da esclerose múltipla.

Essa medicação possui atividade antineoplásica, antimetabólito, imunossupressora, pró-fármaco, carcinogênica, inibidora da síntese de DNA e hepatotóxica. É uma tiopurina , um composto C-nitro, um membro da classe dos imidazóis e um sulfeto de arila.

Azatioprina e a esclerose múltipla


A azatioprina tem sido considerada uma opção terapêutica alternativa para a esclerose múltipla (EM) em situações em que o acesso às terapias modificadoras da doença (TMDs) aprovadas e indicadas é restrito, sobretudo em cenários com recursos limitados.

Embora escassas, as evidências atuais indicam que a azatioprina pode oferecer um pequeno benefício na redução da frequência de surtos, podendo também estar associada a um aumento de eventos adversos graves (EAGs) quando comparada ao interferon beta-1b, em pessoas com esclerose múltipla remitente-recorrente.

No entanto, o impacto da azatioprina sobre a progressão da incapacidade e sobre eventos adversos de curto prazo permanece muito incerto. É importante interpretar esses achados com cautela, pois o nível de confiança nas evidências disponíveis sobre seus potenciais benefícios e riscos ainda é baixo, o que significa que estudos futuros podem modificar essas conclusões.

Outro ponto relevante é que grande parte das pesquisas existentes carece de comparações de longo prazo com outras terapias e frequentemente deixa de avaliar desfechos essenciais para pessoas com EM, como qualidade de vida e deterioração cognitiva. Essa limitação é particularmente significativa nas evidências relacionadas às formas progressivas da doença.

Posologia da azatioprina


A posologia da azatioprina varia conforme a condição a ser tratada, o peso corporal e a resposta clínica do paciente. Em geral, para adultos, a dose inicial costuma ser de 1 a 3 mg/kg/dia, podendo chegar até 5 mg/kg/dia no início, especialmente nos casos de transplante de órgãos, com posterior ajuste conforme a tolerância e a resposta ao medicamento.

A azatioprina é administrada por via oral, geralmente uma ou duas vezes ao dia, preferencialmente junto com alimentos para minimizar efeitos colaterais gastrointestinais. A dose de manutenção geralmente fica entre 1 e 4 mg/kg/dia, e o tratamento pode precisar ser mantido por prazo indefinido com monitoramento regular de exames de sangue para prevenir toxicidade e ajustar a dose. Crianças têm doses calculadas com base na superfície corporal e precisam de monitoramento especializado.

Mecanismo de ação da azatioprina


A azatioprina é um agente imunossupressor que atua através da modulação do rac1 para induzir a apoptose de células T, além de outras funções imunossupressoras que ainda são desconhecidas. Essa medicação possui uma longa duração de ação, pois é administrada diariamente, e um índice terapêutico estreito. Os pacientes que usam essa medicação devem ser orientados sobre o risco de malignidades da pele e linfomas.

O mecanismo de ação da azatioprina ainda não é totalmente compreendido, mas pode estar relacionado à inibição da síntese de purinas, juntamente com a inibição das células B e T.

O 6-tioguanina trifosfato, um metabólito da azatioprina, modula a ativação de rac1 quando coestimulado com CD28, induzindo apoptose de células T. Isso pode ser mediado pela ação de rac1 na proteína quinase ativada por mitogênio, NF-κB. No organismo, a azatioprina oral é bem absorvida, com um Tmax de 1 a 2 horas.

Efeitos colaterais da azatioprina


A azatioprina pode causar uma variedade de efeitos colaterais, que variam desde reações leves até complicações graves que exigem atenção médica imediata. Entre os efeitos mais sérios estão as reações alérgicas, que podem se manifestar por urticária, dificuldade para respirar e inchaço no rosto, lábios, língua ou garganta.

Outro risco importante é o desenvolvimento de uma infecção cerebral potencialmente fatal, cujos sinais incluem alterações na fala, na visão, no pensamento ou nos movimentos musculares.

O uso da azatioprina também pode estar associado ao surgimento de sintomas sugestivos de linfoma, como febre persistente, inchaço de gânglios linfáticos, dores no corpo, suores noturnos, mal-estar, palidez, erupções cutâneas, facilidade para sangrar ou formar hematomas, além de sensação de tontura, falta de ar e dor na parte superior do abdômen que pode irradiar para o ombro. Perda de peso e sensação de saciedade rápida também podem ocorrer.

Outros sinais que requerem atenção imediata incluem sintomas de infecção, febre, calafrios, fraqueza, dor de garganta, tosse ou dor ao urinar, além de náuseas, vômitos ou diarreia intensos, batimentos cardíacos acelerados, urina escura e icterícia, que se manifesta pelo amarelamento da pele ou dos olhos.

Entre os efeitos colaterais mais comuns, geralmente menos graves, estão náuseas, diarreia, dor abdominal, queda de cabelo e erupções cutâneas. Esses sintomas podem ocorrer no início do tratamento e, em alguns casos, tendem a diminuir com o tempo.

Esta não é uma lista completa de efeitos colaterais e outros podem ocorrer. Por favor, consulte o seu médico para obter aconselhamento médico sobre os efeitos colaterais.

Nomes comerciais e o valor da azatioprina em comparação com as medicações para esclerose múltipla


Os principais nomes comerciais da azatioprina são: Imuran®, Imunen®, Imussuprex®, e Aseroprin. O preço da azatioprina no Brasil varia aproximadamente entre R$ 189,90 e R$ 410,00 para um frasco com 50 comprimidos de 50 mg, de acordo com fontes recentes do mercado farmacêutico.​

Em comparação, as medicações para esclerose múltipla (EM), conhecidas como drogas modificadoras do curso da doença (DMDs), geralmente são mais caras e incluem terapias orais, injetáveis e infusões, como interferons, ocrelizumabe, natalizumabe, entre outras.

Essas medicações têm um custo significativamente maior por serem específicas para a EM, mais modernas, e terem maior eficácia comprovada na modificação do curso da doença.

A azatioprina é considerada uma opção terapêutica mais antiga, menos eficaz e de uso off-label para esclerose múltipla, recomendada em casos de pouca adesão a terapias parenterais ou em contextos onde o acesso a drogas modificadoras padrão é limitado.​

Assim, a azatioprina representa uma opção de menor custo, mas com eficácia e recomendação clínica inferiores em comparação às medicações padrão para esclerose múltipla, que geralmente possuem preços mais elevados e indicam maior benefício no controle e progressão da doença.

Recomendação de outros artigos de medicamentos para Esclerose Múltipla


Esse artigo faz parte de uma série de artigos que eu fiz referente a medicações que são usadas para o tratamento de esclerose múltipla. Eu fiz essa série de artigos a pedidos dos leitores do blog que são portadores dessa doença, e que carecem de informações sobre a parte química e bioquímica desses medicamentos.

Além dos artigos recomendados que aparecem abaixo desse artigo, o blog também tem um artigo que tem uma lista que linka para outros artigos referentes a medicações para esclerose multiplica.


Se você for um paciente que está passando por tratamento, ou algum curioso que é interessado no assunto. Eu espero que o link acima desta lista de medicamentos te ajude bastante, pois eu já falei de boa parte dos medicamentos aqui no blog, e também sei bem que o tratamento dessa doença não é nada fácil.

Referencias


  • https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC8406606/ (acessado em 20/11/2025 as 15:25)
  • https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD015005.pub2/full (acessado em 20/11/2025 as 15:28)
  • https://mstrust.org.uk/a-z/azathioprine-imuran (acessado em 20/11/2025 as 15:48)
  • https://go.drugbank.com/drugs/DB00993 (acessado em 20/11/2025 as 15:57)
  • https://www.drugs.com/mtm/azathioprine.html (acessado em 20/11/2025 as 16:14)
  • https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/compound/Azathioprine (acessado em 20/11/2025 as 16:39)
  • https://farmaciameki.cl/producto/azatioprina-50-mg-ascend-d1f5?srsltid=AfmBOorXV7U5F4qtE21XG-V_OlWnQBiWrJtoSUxZA4iD4tIUBIAyUhai (acessado em 20/11/2025 as 17:15)

Sobre o autor


Pedro Coelho Olá meu nome é , eu sou engenheiro químico com Pós Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho e também sou Green Belt em Lean Six Sigma. Além disso, eu conclui recentemente o curso de Engenharia Civil, e em parte de minhas horas vagas me dedico a escrever artigos aqui no ENGQUIMICASANTOSSP, para ajudar estudantes de Engenharia Química e de áreas correlatas. Se você está curtindo essa postagem, siga-nos através de nossas paginas nas redes sociais e compartilhe com seus amigos para eles curtirem também :)

2 Comentários de "Azatioprina – Medicamento que serve para esclerose múltipla"

Anônimo
23 de novembro de 2025 às 19:57

Olá Pedro
A azatioprina engorda ou faz cai o cabelo?

Pedro Coelho
23 de novembro de 2025 às 22:12

Olá anônimo

A azatioprina não está associada diretamente ao ganho ou perda de peso conforme a bula do medicamento, ou seja, não é possível afirmar que ela engorda ou emagrece.

Se houver alterações no peso durante o uso, é importante consultar um médico para investigar outras causas possíveis, pois esse efeito não é típico da azatioprina.

Quanto à queda de cabelo, a azatioprina pode sim causar esse efeito colateral, sendo listado entre os efeitos mais comuns do medicamento.

A queda de cabelo pode ocorrer em alguns pacientes e, geralmente, começa alguns meses após o início do tratamento. É recomendável informar o médico sobre esse sintoma para avaliação apropriada.

Espero ter sido claro

Um abraço

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