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Natalizumabe: remédio para esclerose múltipla e doença de Crohn

O Natalizumabe (Tysabri®) é um medicamento que foi aprovado em 2004 pela FDA para o tratamento de EMRR ativa (Esclerose Múltipla Remitente-Recorrente) na Europa, América do Norte e outros países do mundo. Além disso, esse medicamento também é usado no tratamento da doença de Crohn moderada a grave em adultos, sendo que o natalizumabe só é administrado após a tentativa de outros medicamentos sem sucesso em pacientes com a doença de Crohn.

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Embalagem do Natalizumabe (Tysabri)

O natalizumabe é um anticorpo fabricado artificialmente e, como outros anticorpos, ele pode aderir firmemente a algo. Esse remédio é basicamente composto por uma solução concentrada para infusão intravenosa - 300mg de natalizumabe/15 mL (20 mg/mL). Onde cada embalagem contém 1 frasco-ampola com uma dose única de 15 mL de solução concentrada

Comentários sobre a postagem


Essa postagem foi uma sugestão da minha amiga e professora de neurologia Dr. Yara Dadalti Fragoso, que gostou do artigo referente ao acetato de glatirâmer. O artigo abaixo vai fala do natalizumabe de uma maneira que vai fugir um pouco da área da química.

No entanto, esse artigo vai ser de grande ajuda para a turma da área da saúde e para as pessoas que fazem o uso (ou vão fazer) desse medicamento, que apesar do nome estranho, não é nenhum monstro. Espero que esse artigo ajude vocês, boa leitura :)

Mecanismo de ação do funcionamento do natalizumabe na corrente sanguínea


O natalizumabe é um anticorpo monoclonal humanizado que tem como alvo a molécula de adesão linfocitária, integrina α4β1. A ocultação deste anticorpo monoclonal interrompe a interação da integrina α4β1 com a molécula de pressão vascular VCAM-1, e interfere com a migração dos linfócitos periféricos dos vasos sanguíneos pelo Sistema Nervoso Central (SNC).

Esse medicamento foi projetado para selar seletivamente a superfície das células imunológicas, para que elas não possam mais deixar a circulação sanguínea para entrar nos tecidos. Como explicado no esquema da figura abaixo, as células imunes se ligam às paredes dos vasos sanguíneos usando um sistema bem parecido com o do velcro, pois uma espécie de "gancho" da superfície das células imunológicas capturam as "presilhas" nas paredes dos vasos sanguíneos.

Somente quando as células imunes são capturadas adequadamente pela parede do vaso, elas podem começar a se espremer para fora do vaso, como por exemplo, para o cérebro.

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Natalizumabe impede que células imunes entrem no cérebro

Quando os "ganchos" nas células imunológicas ficam cobertos com uma substância pegajosa como o natalizumabe, eles não podem mais se fixar nas "presilhas" e são impedidos de entrar no cérebro ou na medula espinhal.

Como resultado disso, as células imunológicas não podem mais ser recrutadas pelo cérebro ou medula espinhal, logo as reações imunológicas locais são controladas e os danos causados pela esclerose múltipla são reduzidos. Usando essa estratégia, o natalizumabe é usado para retardar o processo destrutivo da esclerose múltipla.

Já no caso da doença de Crohn, o natalizumabe pode ser eficaz para induzir resposta clínica e remissão em pacientes com doença de Crohn de moderada a grave, com um benefício significativo observado em 1,2 ou 3 infusões.

Além disso, o benefício desse remédio pode acaba sendo mais significativo em pacientes com evidência objetiva de inflamação ativa ou doença crônica, apesar da terapia convencional.

Cuidados para ver se o paciente está apto para tomar esse medicamento: Exame do JC Virus


Antes de tomar este medicamento, o paciente precisa fazer o exame do JC vírus, ai você me pergunta por que precisa disso?

O paciente acaba precisando disso, pois o mecanismo de ação desse remédio determina um risco pontual e específico ao paciente. Nessa hora, o paciente precisa fazer um exame de sangue para ver a sua ligação com vírus JC, pois se o paciente em algum momento de sua vida esteve em contato com o JC vírus, logo apresentará no seu sangue anticorpos para este vírus e esta marca imunológica pode ser reconhecida através de um resultado positivo no exame do JC Vírus.

Além de analisar se o paciente é positivo ou negativo, esse exame também pode analisar o valor do index de sua positividade, ou seja, um paciente pode ser positivo baixo, médio ou alto.

imagem oligodendrócitos positivo vírus JC (JCV)
Essa imagem mostra oligodendrócitos (células responsáveis pela manutenção da bainha mielina) contendo inclusões virais que deram positivo para o vírus JC (JCV) e apoptose (forma de morte celular). As bolinhas marrons da imagem sinalizam que ocorreu algum dano a essas células
Os pacientes que fazem uso desse medicamento que apresentam o exame de JC positivo, também possuem um certo risco de desenvolver a infecção deste vírus.

Esta infecção é chamada de Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva (LMP). Assim, ao se iniciar o tratamento, o paciente deve conhecer seu resultado do exame do JC, para que possa compreender seu risco.

Nos pacientes negativos para o JC, o risco é praticamente ausente, mas, naqueles em que o resultado é positivo, este risco pode variar de um caso de LMP em 10 mil pacientes tratados, até riscos altos, de 1 caso a cada 100 tratados.

Além disso, não é recomendável utilizar esse medicamento por mais de 2 anos, pois longos períodos com esse medicamento pode apresentar um certo risco de infecção. Lembrando que pacientes que já tiveram LMP não poderão usar esse medicamento.

Alerta importante sobre esse medicamento


Se o exame do JC vírus do paciente deu negativo, dificilmente o paciente pode acabar tendo alguma reação adversa a esse medicamento. No entanto, o paciente deve informar ao seu médico se já teve:

  • Febre ou infecção ativa;
  • Herpes ou cobreiro;
  • Leucemia ou linfoma;
  • Transplante de órgão
  • HIV, AIDS ou outra condição que pode enfraquecer seu sistema imunológico;
  • Doença hepática;
  • Urticária, prurido ou dificuldade em respirar após uma dose de natalizumabe.

Para as mulheres, não se sabe ainda se este medicamento irá prejudicar o feto. Informe o seu médico se estiver grávida ou se você está planejando engravidar.

Além disso, pode não ser seguro amamentar enquanto estiver usando este medicamento. Lembre-se, pergunte ao seu médico sobre qualquer tipo de risco desse medicamento.

Como é administrado o natalizumabe e as suas reações adversas


O natalizumabe deve ser administrado por um profissional da área da saúde como infusão na veia, geralmente uma vez a cada 4 semanas.

Esse remédio deve ser administrado lentamente e a infusão intravenosa pode levar pelo menos 1 hora para ser concluída. O paciente será vigiado de perto por pelo menos 1 hora após receber o natalizumabe, para garantir que o mesmo não tenha uma reação alérgica ao medicamento, sendo que uma reação alérgica pode ocorrer até 2 horas ou mais após a sua infusão.

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Embalagem do Natalizumabe fornecido pelo SUS
O natalizumabe pode enfraquecer o sistema imunológico. Ao usar esse remédio, o paciente vai ter que fazer de exames de sangue frequentes. Além disso, o paciente também pode acabar precisando de uma tomografia cerebral ou punção lombar (punção lombar), se desenvolver sinais de infecção no cérebro, sendo que isso é algo difícil de ocorrer.

É de extrema importância que o médico verifique o paciente a cada 3 a 6 meses quanto a sinais de uma possível infecção grave. O médico também poderá consultá-lo por várias semanas após a interrupção do uso do natalizumabe.

O paciente não deve se esquecer de informar qualquer médico que o trate que ele está usando natalizumabe. Além disso, também não deve se esquecer de informar o médico dele caso ele tenha alguma reação adversa ao medicamento.

Lembre-se, o natalizumabe é um imunossupressor, logo o paciente deve evita estar perto de pessoas doentes ou com infecções. Além disso, o mesmo também deve informar imediatamente o seu médico caso desenvolva sinais de infecção.

Efeitos colaterais do Natalizumabe


Essa medicação pode causar dores de cabeça, dores nas articulações, vermelhidão/irritação no local da injeção, inchaço nas mãos/pés/tornozelos ou alterações no ciclo menstrual. Se algum destes efeitos persistir ou piorar, informe o seu médico imediatamente.

Além disso, essa medicação pode causar alguns efeitos enquanto estiver sendo administrada ou logo após a infusão do natalizumabe. Dentre esses efeitos colaterais (reação à infusão) estão calafrios, febre, rubor, náusea, tontura, cansaço e dor no peito.

O paciente deve informar seu médico imediatamente se tiver quaisquer efeitos secundários graves, incluindo: dor de cabeça intensa ou que não desaparece, rigidez/dor no pescoço, batimentos cardíacos acelerados/forte, hematomas/sangramento fáceis, sinais de infeção (tais como dor de garganta que não desaparece, febre, problemas respiratórios, corrimento vaginal incomum, micção dolorosa/frequente), alterações de humor (como depressão, pensamentos suicidas), dor abdominal/estômago intensa.

O natalizumabe raramente pode causar problemas hepáticos graves. Se notar algum dos seguintes efeitos secundários raros mas muito graves, informe o seu médico imediatamente: náuseas/vómitos que não param, urina escura, olhos/pele amarelados, sensação de cansaço/fraqueza.

Uma reação alérgica muito grave a este medicamento é rara. No entanto, procure ajuda médica imediatamente se notar quaisquer sintomas de uma reação alérgica grave, incluindo: erupção cutânea, comichão/inchaço (especialmente da face/língua/garganta), tonturas graves, dificuldade em respirar.

Lembre-se de que este medicamento foi prescrito para você, pois o seu médico julgou que o benefício para você é maior do que o risco de efeitos colaterais. Além disso, muitas pessoas que usam este medicamento não apresentam efeitos colaterais graves.
 

Quais medicamentos podem afetar o natalizumabe no organismo?


O paciente deve informar ao seu médico sobre todos os seus medicamentos atuais, e todos os que ele iniciou ou parou de usar, especialmente os medicamentos que enfraquecem o sistema imunológico, como remédios contra câncer, esteroides e medicamentos para prevenir a rejeição de transplantes de órgãos.

Além disso, outros medicamentos também podem afetar o natalizumabe, incluindo medicamentos prescritos e vendidos sem receita, vitaminas e produtos à base de plantas.

Recomendação de outros artigos de medicamentos para Esclerose Múltipla


Esse artigo faz parte de uma série de artigos que eu fiz referente a medicações que são usadas para o tratamento de esclerose múltipla. Eu fiz essa série de artigos a pedidos dos leitores do blog que são portadores dessa doença, e que carecem de informações sobre a parte química e bioquímica desses medicamentos.

Além dos artigos recomendados que aparecem abaixo desse artigo, o blog também tem um artigo que tem uma lista que linka para outros artigos referentes a medicações para esclerose multiplica.


Se você for um paciente que está passando por tratamento, ou algum curioso que é interessado no assunto. Eu espero que o link acima desta lista de medicamentos te ajude bastante, pois eu já falei de boa parte dos medicamentos aqui no blog, e também sei bem que o tratamento dessa doença não é nada fácil.

Referências



Sobre o autor


Pedro Coelho Olá meu nome é , eu sou engenheiro químico, engenheiro de segurança do trabalho e Green Belt em Lean Six Sigma. Além disso, também sou estudante de engenharia civil, e em parte de minhas horas vagas me dedico a escrever artigos aqui no ENGQUIMICASANTOSSP, para ajudar estudantes de Engenharia Química e de áreas correlatas. Se você está curtindo essa postagem, siga-nos através de nossas paginas nas redes sociais e compartilhe com seus amigos para eles curtirem também :)

12 Comentários de "Natalizumabe: remédio para esclerose múltipla e doença de Crohn"

Anônimo
19 de março de 2020 às 17:53

Oi Pedro
Você poderia me tira uma duvida, o que é esse JC Vírus ?

Pedro Coelho
19 de março de 2020 às 22:09

Olá Anônimo

O vírus John Cunningham (JCV) é uma espécie de vírus que pertence à família do poliomavírus humano. Esse vírus foi identificado pela primeira vez em 1965, e tem os dois primeiros nomes de um paciente que foi diagnosticado com a doença que é causada por esse vírus, a Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva (LMP).

Além disso, se você quiser saber mais detalhes sobre isso, eu recomendo que você de uma olhada na bula do natalizumabe, que se encontra no site da fabricante, a Biogen.

Aproveitando esse momento, como eu sei que tem gente que vai pergunta o preço desse medicamento, sendo isso algo que já fizeram na postagem do acetato de glatirâmer.

O natalizumabe é um medicamento de alto custo, que deve esta custando algo entre 6200 e 7400 reais.

Espero que você tenha gostado da postagem

Um abraço

Antônio
8 de outubro de 2021 às 04:02

Olá, Pedro Coelho!( nome do meu filho caçula)

Bom, meu nome é Antônio Coelho e tenho outro filho de 18 anos que tem EM e toma o Natalizumabe há quase um ano (antes tomou por um ano o Gilenya).

Minha dúvida é se há risco em vaciná-lo contra a Covid, vale a pena?

Pedro Coelho
10 de outubro de 2021 às 09:32

Olá Antônio

Não a risco em vaciná-lo contra a Covid, mas vai tem que vacinar no mínimo 15 dias antes da próxima infusão da medicação. Se der esse intervalo não há problema nenhum :)

Espero ter te ajudado

Um abraço

Anônimo
27 de maio de 2022 às 15:56

por favor quero comprar a bolsa termica para transportar o natalizumabe , qual o tamanho e altura e largura , me responda por favor , Meu email pauloruizz@gmail.com , me reponda urgente dia 3 vou pegar no sus

Pedro Coelho
27 de maio de 2022 às 19:03

Olá Paulo

Entra em contato com o programa bia, pois eles enviam de graça a bolsa térmica do programa se você pedir. Além disso, você também pode se informar sobre os vouchers que eles enviam para você fazer a infusão do natalizumabe de graça em alguma clínica na sua cidade.

Telefone de contato: 0800 242 0000 - de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h. ou por e-mail: bia@biogen.com

Como você está precisando com urgência da bolsa térmica, eu sugiro que você leve dessa vez no SUS uma pequena caixa de isopor com gelo para quebrar um galho dessa vez, pois eles demoram um pouco para enviar a bolsa térmica. Além disso, a caixa do natalizumabe é pequena como você deve ter reparado na imagem mostrada nesse artigo. Ela tem cerca de 8 cm de altura e 6 cm de largura.

Espero ter ajudado

Unknown
30 de maio de 2022 às 07:50

Bom dia tenho Em desde 2006 essa inflamação que aparece positivo no jvc e um câncer. Anderson

Pedro Coelho
31 de maio de 2022 às 19:42

Olá Anderson

Você está tomando qual medicação ? , pois essa você não pode

Anônimo
1 de janeiro de 2023 às 22:42

O natalizumabe (Tysabri) causa queda de cabelo?

Pedro Coelho
2 de janeiro de 2023 às 06:51

Olá anônimo

Se você tiver queda de cabelo durante o tratamento com o natalizumabe (Tysabri), essa queda provavelmente não está sendo causada pela medicação, pois nos estudos referentes a essa medicação, a perda de cabelo não foi um efeito colateral relatado pelos pacientes que receberam esse medicamento.

Esse sintoma de perda de cabelo é desencadeado geralmente por outros fatores relacionados a essas condições, como estresse e outros medicamentos prescritos.

Além disso, algumas pessoas com doença de Crohn têm dificuldade em absorver vitaminas e minerais essenciais de sua dieta. Isso pode levar a deficiências nutricionais, outra possível razão para a queda de cabelo.
Se você está tendo queda de cabelo, converse com seu médico. Ele pode te sugerir outras causas de perda de cabelo e maneiras de gerenciá-las.

Espero que isso te ajude

Um abraço

Anônimo
11 de janeiro de 2023 às 12:15

Me tira uma dúvida, o natalizumabe emagrece?

Pedro Coelho
11 de janeiro de 2023 às 19:46

Olá anônimo

O emagrecimento é um dos possíveis efeitos colaterais leves que o Natalizumabe (Tysabri) pode causar.

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