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Alemtuzumabe (Lemtrada) – Medicação para Esclerose Múltipla

O Alemtuzumabe (Campath 1-H) é uma medicação para esclerose múltipla, que é vendida com nome comercial Lemtrada. Essa medicação é uma imunoglobulina G monoclonal humanizada que atualmente está sob investigação para o tratamento de Esclerose Múltipla (EM)

O alemtuzumabe é um medicamento que é dirigido contra antígenos CD52 que são expressos na superfície das células T, células B, células nk, monócitos e células dendríticas. Esse medicamento também causa uma rápida depleção de linfócitos e já chegou até ser aprovado para uso na leucemia linfocítica crônica de células B, mas depois de certo tempo, a empresa acabou retirando voluntariamente do mercado em 2012.


Caixa de Alemtuzumabe Lemtrada esclerose multipla
Caixa de Alemtuzumabe (Lemtrada)


Comentário sobre a postagem


Apesar desse artigo não ter tanta relação com a engenharia química, essa medicação possui uma formula química bem complexa, C6468H10066N1732O2005S40

Além disso, esse artigo faz parte de uma série de artigos referentes a medicações de esclerose múltipla que foi algo que vários leitores que são membros da APEMBS e da ALSAPEM tem me pedido bastante. Para os leitores que não conhecem essa série, eu já escrevi artigos sobre o acetato de glatirâmer , interferon, fumarato de dimetila, fingolimode, teriflunomida, ocrevus e natalizumabe

Observação: apesar de esse medicamento ter sido aprovado pela ANVISA em 2014, o alemtuzumabe não é fornecido pelo SUS, pois o mesmo pode oferece certos riscos a saúde.

Estudos comparativos entre Alemtuzumabe e o IFN beta 1-a (Interferon beta 1-a)


Após estudos preliminares na década de 1990, alemtuzumabe foi estudado na esclerose multipla recorrente em um estudo de fase 2 as cegas e randomizado contra IFN beta 1-a subcutâneo. Nesse estudo, o alemtuzumabe demonstrou uma redução na carga de lesão T2 e teve efeitos benéficos na atrofia cerebral. 

Um acompanhamento de longo prazo dos estudos de fase 2 mostrou uma redução de 69% nas taxas anuais de recaídas e, uma redução de 72% na progressão da deficiência em relação ao IFN beta-1a. Nos dois ensaios de fase 3 que foram concluídos, o estudo CARE-MS I mostrou uma redução de recidiva de 55% quando comparado com o subcutâneo. 

Em pessoas que nunca fizeram tratamento para a esclerose múltipla anteriormente, o IFN beta-1a não demonstrou benefício na progressão da deficiência. O estudo CARE MS II também mostrou uma redução significativa nas recaídas (49%) e progressão da deficiência (42%) quando comparado com IFN beta-1a subcutâneo em pacientes que tiveram recidiva com tratamento prévio para esclerose múltipla. 

Além disso, o alemtuzumabe já foi associado a episódios de autoimunidade humoral que parecem estar relacionados com uma reconstituição defeituosa de linfócitos B. Essa doença autoimune da tireoide em questão é uma doença de autoimunidade humoral que parece afetar de 16% a 30% dos indivíduos tratados com alemtuzumabe. 

A púrpura trombocitopênica autoimune também foi identificada a uma taxa de cerca de 1% e, em um caso, resultou em fatalidade devido a uma hemorragia cerebral. Vários casos de doença basal antiglomerular (síndrome de Goodpasture) também ocorreram. 

Esses eventos de outras doenças auto-imunes podem ocorrer mesmo anos após o tratamento inicial. Uma estratégia de triagem contínua (testes de tireoide, fígado e rins) provavelmente será recomendada para monitoramento de longo prazo. 

A incidência de infecções durante o tratamento foi aproximadamente 2 vezes maior com alemtuzumabe do que com IFN beta-1a. Essa medicação também está associada a reações à infusão, provavelmente devido à liberação de citocinas.

Mecanismo de Ação do Alemtuzumabe


A função do CD52 em linfócitos sem a presença de anticorpos bloqueadores permanece obscura. Na presença de alemtuzumabe, o CD52 medeia a citotoxicidade dependente do complemento de várias linhas celulares, incluindo neutrófilos e linfócitos. 

No entanto, os estudos mais recentes demonstram que alemtuzumabe atua nos linfócitos por meio da citotoxicidade dependente de anticorpos, e não por meio do complemento. O resultado líquido do bloqueio de CD52 é uma depleção profunda de linfócitos de células B e T. Este efeito foi inicialmente considerado o mecanismo pelo qual alemtuzumabe era eficaz em doenças autoimunes e processos neoplásicos. 

Entretanto, o mecanismo de ação do alemtuzumabe na esclerose múltipla é bem mais complexo e provavelmente não está diretamente relacionado à depleção de linfócitos. Uma interação no aumento das células T regulatórias e a diminuição das células T de memória foram demonstradas em pacientes tratados com alemtuzumabe e, isso talvez possa ser o mecanismo de ação mais provável na esclerose múltipla. 

Também se acredita que esse anticorpo monoclonal humanizado se ligue à proteína do líquido de bloqueio CD52 que é encontrada na superfície das células T e B, inativando-as. Logo, esse medicamento ajuda a desacelerar a neuroinflamação na esclerose múltipla. 

Além disso, os linfócitos em reconstituição após o tratamento com alemtuzumabe também secretam fator neurotrófico derivado do cérebro, que pode ter efeitos neuroprotetores.

Dosagem do Alemtuzumabe


O alemtuzumabe é uma medicação que é tipicamente administrada por via intravenosa onde o paciente receberá uma dose de 12 mg por dia durante 5 dias consecutivos no primeiro ano, seguido por 3 dias de infusão 12 meses após as primeiras cinco infusões.

Efeitos Colaterais do Alemtuzumabe



Devido aos seus efeitos colaterais, a infusão desse medicamento requer supervisão hospitalar, mas pode ser realizada por unidades de infusão ambulatorial experiente por alguns pacientes. As reações à infusão desses medicamentos são comuns, mas elas podem ser reduzidas através da administração concomitante de esteróides e anti-histamínicos. 

Sendo que os efeitos colaterais comuns dessa medicação incluem erupções cutâneas, dores nas articulações, infecções fúngicas, fadiga, infecções do trato urinário e respiratório superior e náuseas. Por causa disso, os pacientes são sempre aconselhados a revisar seu histórico médico, incluindo vacinas, com seu médico antes de iniciar o tratamento. 

A autoimunidade, particularmente o desenvolvimento de disfunção tireoidiana (20%), é um efeito colateral comumente observado da terapia com alemtuzumabe, e atinge seu pico de 2 a 3 anos após o tratamento. 

O risco de púrpura trombocitopênica imune é muito menor (1-2%), mas a condição pode ser fatal e requer hemogramas completos mensais por pelo menos 5 anos após o tratamento com alemtuzumabe para facilitar a terapia imediata com corticosteroides. 

As nefropatias, incluindo a doença do anticorpo anti-membrana basal glomerular (GBM), também é uma complicação rara (0,3%). Esse medicamento também pode causar efeitos colaterais graves, como infecções virais, reações à infusão, câncer de tireoide e de pele e distúrbios linfoproliferativos. 

No entanto, a maioria dessas infecções virais é provocada pelo vírus do herpes que pode ser tratado com terapia antiviral profilática. Além disso, nenhuma infecção oportunista séria foi observada em estudos clínicos de pacientes com esclerose múltipla. 

Desde a aprovação dessa medicação pelo FDA em 2014, 13 casos de acidente vascular cerebral e ruptura de artérias na cabeça e pescoço causados ​​por seu uso foram relatados em todo o mundo. Devido a esses riscos de ameaça à vida, o FDA emitiu seu maior alerta de segurança que é um aviso que deve ser colocado na bula ou no rótulo desse remédio.

Gravidez e o Alemtuzumabe


Nos estudos referentes a essa medicação, as gestações que ocorrem após o segundo ciclo de alemtuzumabe não tiveram resultados adversos. Essa medicação possui um tempo de meia-vida de até 14 dias, sendo necessário de 3 a 4 meses para a liberação do organismo. 

Para as mulheres que desejam engravidar, o recomendável é que elas esperem até 4 meses após o segundo ciclo de tratamento antes de tentar engravidar. Nesse contexto, isso seria considerado seguro e acaba tornando o alemtuzumabe uma opção atraente para mulheres com doença ativa que estão pensando em engravidar no futuro.

Recomendação de outros artigos de medicamentos para Esclerose Múltipla


Esse artigo faz parte de uma série de artigos que eu fiz referente a medicações que são usadas para o tratamento de esclerose múltipla. Eu fiz essa série de artigos a pedidos dos leitores do blog que são portadores dessa doença, e que carecem de informações sobre a parte química e bioquímica desses medicamentos.

Além dos artigos recomendados que aparecem abaixo desse artigo, o blog também tem um artigo que tem uma lista que linka para outros artigos referentes a medicações para esclerose multiplica.


Se você for um paciente que está passando por tratamento, ou algum curioso que é interessado no assunto. Eu espero que o link acima desta lista de medicamentos te ajude bastante, pois eu já falei de boa parte dos medicamentos aqui no blog, e também sei bem que o tratamento dessa doença não é nada fácil.

Referências



Sobre o autor


Pedro Coelho Olá meu nome é , eu sou engenheiro químico, engenheiro de segurança do trabalho e Green Belt em Lean Six Sigma. Além disso, também sou estudante de engenharia civil, e em parte de minhas horas vagas me dedico a escrever artigos aqui no ENGQUIMICASANTOSSP, para ajudar estudantes de Engenharia Química e de áreas correlatas. Se você está curtindo essa postagem, siga-nos através de nossas paginas nas redes sociais e compartilhe com seus amigos para eles curtirem também :)

4 Comentários de "Alemtuzumabe (Lemtrada) – Medicação para Esclerose Múltipla "

24 de novembro de 2020 às 15:12

Muito obg amigo por sua dedicação 👏👏👏

24 de novembro de 2020 às 15:13

Muito obg amigo por sua dedicação 👏👏👏
APEMBS agradece 🧡🧡

Anônimo
28 de novembro de 2023 às 17:26

Qual o preço do alemtuzumabe no Brasil?

28 de novembro de 2023 às 20:53

Olá anônimo

Me desculpe, mas não consegui encontrar o preço exato do Alemtuzumabe (Lemtrada) no Brasil. Contudo, é importante ressaltar que o medicamento foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) para o tratamento da esclerose múltipla remitente-recorrente. Isto significa que está medicação pode estar disponível aos pacientes gratuitamente sob certas condições.

Para obter informações mais precisas, recomendo que você entre em contato com o seu neurologista, pois ele vai saber lhe informar melhor como que faz os tramites para conseguir essa medicação com o SUS.

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