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Vesículas na argamassa - Patologia da construção civil

As vesículas na argamassa são defeitos que se manifestam na forma de pequenas bolhas ou cavidades, geralmente perceptíveis na superfície do revestimento após a aplicação ou durante o processo de cura.

Vesículas na argamassa - Patologia da construção civil bolhas cavidade

Embora possam parecer inofensivas à primeira vista, essas formações comprometem a estética e, em alguns casos, o desempenho mecânico e a durabilidade do revestimento. A origem das vesículas está relacionada a diversos fatores, como a incorreta proporção dos materiais, excesso de ar incorporado, umidade aprisionada, ou reações químicas entre os componentes da mistura.

Compreender as causas que levam ao surgimento dessas bolhas é essencial para prevenir sua ocorrência e garantir a qualidade do acabamento. Além disso, conhecer os métodos de correção e tratamento das argamassas afetadas permite restaurar a integridade da superfície e evitar recorrências. Este texto aborda, portanto, as principais origens das vesículas na argamassa, seus efeitos e as práticas recomendadas para o diagnóstico e tratamento desse tipo de patologia.

Como as vesículas surgem na argamassa


As vesículas normalmente aparecem nas camadas de reboco e resultam de diversos fatores, como a presença de partículas de cal não totalmente apagadas, matéria orgânica nos agregados, torrões de argila dispersos na argamassa ou outras impurezas, como mica, pirita e concreções ferruginosas.

As vesículas originadas por problemas relacionados à cal hidratada manifestam-se em pequenos pontos do revestimento, que incham gradativamente até provocar o destacamento da pintura, expondo o reboco.

Esse fenômeno costuma ocorrer após a execução do revestimento, geralmente dentro de um período de até três meses. Ele acontece quando o óxido de cálcio livre existente na cal se hidrata tardiamente. Como os grãos maiores de cal não permitem que a argamassa absorva a expansão resultante dessa reação, formam-se as vesículas. 

Em resumo, quando há partículas grosseiras de óxido de cálcio, sua expansão não é acomodada pelos vazios da argamassa, o que leva à formação dessas bolhas.

Outro fator que contribui para o problema é a perda de aderência entre a pasta de cimento e o agregado, causada pela presença de matéria orgânica na areia, como húmus, fragmentos de madeira, carvão e outros resíduos vegetais ou animais, que interferem no processo de pega do cimento.

Os torrões de argila presentes na argamassa também representam um risco, pois aumentam de volume quando estão úmidos e retraem ao secar. Esse movimento contínuo de dilatação e contração provoca a desagregação gradual da argamassa ao redor, originando vesículas na superfície.

Além disso, certos materiais contendo compostos de ferro podem oxidar-se, ocasionando variações de volume e consequente deterioração da argamassa. Em algumas obras, o armazenamento inadequado da areia, próximo a resíduos como fios de arame recozido ou serragem, resulta em contaminações que, posteriormente, também contribuem para o aparecimento de vesículas.

Aspectos das vesículas na argamassa


As vesículas na argamassa constituem-se do empolamento da pintura, com as partes internas das empolas nas cores branca, preta ou vermelha acastanhada, podendo as mesmas ser oriundas de torrões de argila, pedras de cal não hidratadas, impurezas, etc.

Quando pedras de cal são as causadoras de vesículas ocorrem inchamentos que criam bolhas na pintura por causa do aumento de volume deste aglomerante.

Causas prováveis da formação das vesículas na argamassa


As principais causas associadas à formação de vesículas em revestimentos argamassados incluem:

  • Hidratação retardada da cal virgem: A presença de óxido de cálcio (CaO) não totalmente hidratado ou o uso excessivo de cal pode gerar reações internas tardias. Essas reações liberam gases e provocam expansões localizadas, resultando na formação de bolhas ou vesículas.
  • Impurezas na areia: A presença de substâncias indesejáveis, como matéria orgânica, pirita, torrões de argila ou concreções ferruginosas, constitui fator de risco, pois esses materiais sofrem decomposição ou oxidação, liberando gases e promovendo a formação de vesículas.
  • Umidade ascendente e infiltrações: A migração de umidade proveniente do substrato de concreto ou de infiltrações pode comprometer a aderência da argamassa e favorecer o surgimento de vesículas, especialmente em revestimentos de baixa qualidade ou mal executados.
  • Falta de cura e aplicação inadequada de pinturas: A ausência de cura adequada da argamassa ou a aplicação precoce de revestimentos de acabamento (como tintas) dificultam a liberação da umidade interna, gerando pressões de vapor que também podem formar vesículas.

Relação entre as causas e as características das vesículas


A hidratação retardada do óxido de cálcio provoca expansão localizada no revestimento, originando vesículas cuja parte interna apresenta coloração branca, conforme apresentado na seguinte figura.

vesicula argamassa Empola com a parte interna na cor branca
Empola com a parte interna na cor branca

Já as vesículas de coloração interna escura (preta) estão associadas à presença de pirita ou matéria orgânica na areia. A decomposição ou oxidação desses materiais dentro da argamassa provoca expansão do volume e escurecimento característico, servindo como indício da contaminação do agregado miúdo.

Como corrigir e prevenir a formação de vesículas na argamassa


A medida de correção mais eficaz para eliminar vesículas é a remoção completa do revestimento comprometido, seguida da reaplicação de uma nova camada de argamassa, conforme as especificações técnicas do projeto e as boas práticas de execução.

Já para prevenção da formação de vesículas na argamassa, o recomendável é:

  • Utilizar sempre materiais de qualidade e devidamente especificados em projeto.
  • Garantir que a areia esteja limpa, isenta de impurezas, como matéria orgânica, argila ou sais.
  • Seguir rigorosamente as recomendações quanto à hidratação da cal e à cura da argamassa.
  • Evitar aplicar o revestimento sobre superfícies úmidas, sujas ou mal preparadas.
  • Assegure-se de que a base esteja firme, seca e adequadamente desempenada antes da aplicação.

Referências


  • KIST, Lidiane; MARTINS, Daniele dos Santos. Verificação de falha de aderência na interface argamassa e bloco em fachadas através da termografia. Rio de Janeiro: Editora Autografia,2020.
  • YAZIGI, Walid. A técnica de edificar. São Paulo: Editora Blucher, 2021.
  • CAPORRINO, Cristiana Furlan. Patologias em alvenarias. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2018.

Sobre o autor


Pedro Coelho Olá meu nome é , eu sou engenheiro químico com Pós Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho e também sou Green Belt em Lean Six Sigma. Além disso, eu conclui recentemente o curso de Engenharia Civil, e em parte de minhas horas vagas me dedico a escrever artigos aqui no ENGQUIMICASANTOSSP, para ajudar estudantes de Engenharia Química e de áreas correlatas. Se você está curtindo essa postagem, siga-nos através de nossas paginas nas redes sociais e compartilhe com seus amigos para eles curtirem também :)

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