Desenvolvida em 1829 pelo medico Frances Jean Guillaume Auguste Lugol, a solução de Lugol (também conhecida como reagente de Lugol) é um líquido marrom transparente que tem uma função bactericida e fungicida.
Béquer com a solução de Lugol (reagente de Lugol) |
A composição atual dessa solução anti-séptica é de 10% de iodeto de potássio, 5 % de iodo, e 85 % de água destilada. Sendo essas proporções de iodo e iodeto de potássio maiores do que a da fórmula original de Lugol.
Além disso, a solução de Lugol possui algumas vantagens em relação a outras soluções que contem iodo, como por exemplo, a tintura de iodo (uma solução em álcool), pois a mesma é menos irritante quando aplicada em feridas abertas.
Breve Histórico das Soluções de Iodo
Dentre varias outras soluções que contem iodo, a solução de Lugol juntamente com a tintura de iodo fazem parte do grupo dos poucos medicamentos de iodo sobreviventes que ainda são usados para a desinfecção de feridas.
Retrato de Jean Lugol |
Nos anos de 1800, o iodo era um composto utilizado em todos os tipos de produtos e remédios, de fósforos a sabonetes e supositórios, cremes e cigarros. Na enfermaria de muitos hospitais franceses, tiras de gazes saturadas de iodo eram penduradas nas vigas transversais e o chão coberto de algas marinhas.
Naquela época, as pessoas penduravam garrafas cheias de iodo no pescoço, como amuletos. A mania do iodo se espalhou de forma onipresente e se tornou tão arraigada até mesmo na profissão médica que, bem no século XX, todo estudante de medicina estava familiarizado com o slogan "Wenn Mann nicht weiss Wie, Was, Warum, dann gibt Man immer Job Kalium" (" Quando não se sabe quem, o quê ou porquê, dê sempre iodeto de potássio ”).
Esse conselho provavelmente resultou da prática de John Elliotson, um cirurgião do Hospital Saint Thomas de Londres, que prescreveu iodeto de potássio para bócio (aumento do volume da glândula tireoide) a partir de 1819, dois anos antes da publicação da farmacopeia de Magendie.
Isso acabou se tornando um costume até a década de 1970 e, a administração da solução de Lugol a pacientes com hipertireoidismo era feita de duas a três semanas antes da ablação da tireoide, que era um procedimento conhecido como terapia Plummer, ou Plummerização, que foi criado por Dr. Henry Stanley Plummer (1874-1937).
Isso reduziu drasticamente a mortalidade após a tireoidectomia, e o bócio multinodular tóxico passou a ser conhecido também como doença de Plummer.
Além disso, a solução de Lugol também já foi usada pelo medico austríaco Walter Schiller (1887 - 1960) como um teste de triagem para a detecção precoce do câncer cervical. Atualmente, essa solução ainda é usada na ginecologia para delinear as margens do epitélio normal na vagina e colo do útero.
Uso da Solução de Lugol no Tratamento de Água
O iodo também tem sido usado desde o início de 1800 no tratamento de água. Várias formas diferentes de iodo têm sido usadas, desde comprimidos contendo a solução de Lugol até folhas e resinas impregnadas essa solução.
O uso de iodo como agente desinfetante tem sido amplamente difundido e também foi proliferado para uso em ambientes austeros por soldados militares, viajantes, vítimas de condições de emergência (como desastres pós-furacão) e entusiastas de aventuras (como caminhantes de alta altitude) que não têm acesso a fontes de água potável.
Como todos os outros produtos químicos usados para o tratamento da água, o uso do iodo não remove fisicamente nenhum contaminante preocupante, mas disponibiliza água para beber no meio de uma situação extremamente precária.
O iodo foi descoberto por Benard Couris em 1811 e logo foi usado no tratamento de água. A introdução da solução de Lugol no tratamento de água ofereceu uma forma mais facilmente disponível para a desinfecção imediata da água potável.
Os tablets que contem a solução de Lugol foram adaptados para uso em muitas aplicações comerciais, desde mochila e caminhadas até kits de preparação para emergências. Ainda é comum ver instruções para usar a solução de lugol em condições de emergência.
Atualmente existe uma vasta gama de produtos que são utilizados no tratamento de água para garantir a segurança da água no ponto de uso, bem como em todo o processo de purificação e distribuição. Como acontece com todos os produtos químicos usados na indústria de tratamento de água, o iodo tem várias vantagens e desvantagens que devem ser consideradas.
O iodo usado para desinfecção vem em formas prontamente disponíveis e é simples de usar. Ele deixa um gosto e odor desagradáveis (não tão severos como o dos outros produtos químicos), e deve-se ter cuidado ao prescrever a estratégia de tratamento para populações sensíveis, como aquelas com problemas existentes na tireoide.
Tal como acontece com outros produtos químicos, ainda há certa preocupação com a formação de subprodutos de desinfecção, que podem ser prejudiciais à saúde humana em uma exposição de longo prazo.
Referências
- https://www.britannica.com/science/Lugols-solution (acessado em 25/12/2020 as 19:16)
- The History of Tropical Neurology: Nutritional Disorders, G. W. Bruyn, Charles M. Poser, Science History Publications/USA, 2003
- Eponyms and Names in Obstetrics and Gynaecology, Thomas F. Baskett, Cambridge University Press, 24 de jan. de 2019
- Comprehensive Handbook of Iodine: Nutritional, Biochemical, Pathological and Therapeutic Aspects, Victor R. Preedy, Gerard N. Burrow, Ronald Ross Watson, Academic Press, 17 de mar. de 2009
- https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/compound/Potassium-triiodide#section=Use-and-Manufacturing (acessado em 25/12/2020 as 22:04)
Sobre o autor
Olá meu nome é Pedro Coelho, eu sou engenheiro químico, engenheiro de segurança do trabalho e Green Belt em Lean Six Sigma. Além disso, também sou estudante de engenharia civil, e em parte de minhas horas vagas me dedico a escrever artigos aqui no ENGQUIMICASANTOSSP, para ajudar estudantes de Engenharia Química e de áreas correlatas. Se você está curtindo essa postagem, siga-nos através de nossas paginas nas redes sociais e compartilhe com seus amigos para eles curtirem também :)
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