O desastre da baía de Minamata (localizada na província de Kumamoto, Japão) foi o maior desastre da historia envolvendo mercúrio, o que causou centenas de mortes e milhares de pessoas tiveram anomalias, que ainda hoje, afetam as novas gerações da população daquela região.
Baia de Minamata Hoje |
Poluição e constatação
No ano de 1908, a Chisso Corporation abriu sua primeira indústria química em Minamata. Inicialmente a fabrica produzia apenas fertilizante, mas com a expansão da indústria química que teve no período pré e pós-guerra no Japão, a Chisso passou a produzir acetileno, acetaldeído, ácido acético, cloreto de vinila e octanol, entre outros compostos químicos.
Em 1932, a Chisso começou a produzir acetaldeído(usado na produção de material plástico), na fabrica em Minamata, produzindo 210 Toneladas de acetaldeído nesse ano. Em 1951, a produção da fabrica de Minamata saltou para 6.000 toneladas por ano e atingiu um pico de 45.245 toneladas em 1960.
A produção da fabrica da Chisso em Minamata totalizava entre um quarto e um terço da produção total de acetaldeído do Japão. Em agosto de 1951, a Chisso passa a produzir acetaldeído usando sulfato de mercúrio como catalisador, com isso, produzindo como resíduo o metilmercúrio, que é um composto extremamente toxico e danoso à saúde humana.
A Chisso nunca tinha dado uma destinação correta, para os resíduos que ela gerava. Ela sempre despejava seu resíduo na baia de Minamata. Em abril de 1956, começaram a surgir os primeiros casos de pessoas contaminadas com os resíduos, apresentando sintomas como dificuldade de andar, dificuldade de fala e convulsões.
No inicio se pensou que se tratava de uma epidemia de alguma doença, mas, no entanto, os gatos também estavam apresentando sintomas semelhantes. Esse fato intrigou os pesquisadores da Universidade de Kumamoto, que começaram a investigar a baia de Minamata, onde encontram peixes e crustáceos afetados pelo mesmo problema.
No inicio das investigações, os pesquisadores pensavam que a alta concentração de magnésio encontrada nos peixes e nos órgãos das vitimas era a causa do problema, eles pensaram até que a doença era causada pela combinação múltipla de metais encontrados na água. No entanto, ao visitarem ao neurologista britânico Douglas McAlpine, descobriram que os sintomas eram similares aos de contaminação por mercúrio orgânico, e logo descobriram que o metil mercúrio era o causador da doença.
Metil mercúrio e a doença de Minamata
Das formas de Mercúrio orgânico, o metilmercúrio é a forma que tem maior toxicidade. Sendo essa toxicidade bem maior do que a de sua forma metálica. No organismo, o metilmercúrio pode causar danos graves à saúde, devido a sua lenta eliminação.
Em vários estudos feitos pelo mundo, os cientistas observaram que a exposição ao mercúrio implica principalmente no comprometimento das funções motoras e visuais.
Na década de 60, a intoxicação por metilmercúrio começou a ser chamada de Doença de Minamata. Devido ao grande número de casos de intoxicados por mercúrio na cidade Minamata.
Os efeitos provenientes da intoxicação por metilmercúrio são os seguintes:
- Sistema nervoso: tremores, perturbação da visão e audição, insônia, dor de cabeça, alteração na personalidade e comportamento com perda de memória, irritabilidade, timidez e nervosismo, excitabilidade aumentada.
- Rins: necrose tubular e insuficiência renal grave.
- Cardiovascular: enfarte de miocárdio, doença coronária.
- Pulmões: bronquite aguda e corrosiva, pneumonites intersticiais.
- Pele: hiperpigmentação mucocutânea, granulomas, dermatite, acrodinia.
Em grávidas, o metilmercúrio pode ultrapassar a placenta e afeta o feto com o dobro de efeito do ocorrido em um adulto, possivelmente levando a um aborto.
Todos os casos de considerada contaminação levam a morte, caso não haja tratamento adequado.
Ciclo do metilmercúrio
Atualmente, a maior parte da exposição humana ocorre através da ingestão de peixes e outros animais marinhos, nos quais se encontra na forma de monometilmercúrio que é a mais bioacumulada.
O mercúrio evapora facilmente. Uma vez na atmosfera permanece cerca de um ano e é transportado a longas distâncias. Este é lentamente convertido a mercúrio mercúrico (Hg+2), e retorna ao solo através da água das chuvas. Uma fração deste mercúrio volta novamente para a atmosfera na forma de vapor para completar o ciclo, os outros compostos de mercúrio são encontrados nos sedimentos aquáticos.
O mercúrio inorgânico é convertido a metil mercúrio pelos microrganismos nos sedimentos ou matéria em suspensão no meio aquático. Isto corresponde a um mecanismo de proteção por parte destes. As bactérias alquilantes são as responsáveis pela metilação do mercúrio tanto no oceano, como na água doce.
ciclo do metilmercúrio |
Protestos para soluções
Os protestos que cercaram a doença aparentemente ajudaram a democratização do Japão. Quando os primeiros casos foram reportados, as vítimas não tinham direitos e nem recebiam compensações. Em vez disso, os afetados eram excluídos de sua comunidade, devido à ignorância sobre a doença. Pois, as pessoas temiam que a doença fosse contagiosa.
Embora alguns médicos e autoridades governamentais viessem a descobrir que o envenenamento por mercúrio estava causando a doença e fossem capazes de rastrear a doença até o consumo de peixe próximo à fábrica, nenhuma ação foi tomada para solucionar o problema, uma vez que os pescadores e as vítimas representavam uma pobre minoria sem voz influente.
As pessoas diretamente afetadas pela poluição eram excluídas dos debates. Os progressos ocorreram quando as vítimas de Minamata foram finalmente permitidas a reunir-se para discutir o assunto.
Protestantes de Minamata |
Remediação e a expansão da doença
Em 21 de outubro de 1959, o ministério do Comercio internacional e indústria ordena, que a Chisso faça uma drenagem de águas residuais na baia de Minamata e, instale um sistema de tratamento de efluentes na fábrica.
Em 19 de dezembro, a Chisso instala um sistema de purificação, O Cyclator. Esse sistema prometia ter uma eficiência tremenda na remoção do mercúrio na água. Porem esse sistema se mostrou completamente ineficaz na remoção do mercúrio orgânico.
No começo da década de 60, pensava se que o número de casos de infectados iria diminuir. Porem a poluição se alastrou e atacou cidades próximas, infectando assim mais pessoas com metil Mercúrio.
Em 1968, a Chisso abandona o uso do mercúrio no processo de produção do acetaldeído. Em 1977, o governo japonês começa a fazer um projeto de remediação da área contaminada por metil mercúrio, que foi de 1977 até 1990. Nesse projeto, foram removidos cerca 1,51 milhões de metros cúbicos de lodo contaminado com mercúrio da baia de Minamata, e foram gastos aproximadamente 48,5 bilhões de ienes. Sendo que esses gastos foram divididos entre o governo nacional, a prefeitura de Kumamoto e a Chisso corporation (que arcou com mais de 60% desse valor).
Mapa da área remediada |
Desastre similar ao de Minamata.
Em 1965, a doença de Minamata aparece em uma área distante de Minamata, a cidade de Niigata (localizada na província de Niigata, Japão). Nesse desastre a fabrica da empresa Showa Denko, que tinha um processo químico similar ao da Chisso em Minamata, empregando mercúrio como catalisador, polui as margens do rio Agano e contaminou centenas de pessoas com mercúrio.
Consequências do desastre
O desastre causou mais de 900 mortes com sintomas severos causados pelo envenenamento por mercúrio. Estima-se que a Chisso tenha descartado entre 200 e 600 toneladas de metilmercúrio na baía de Minamata
Após várias batalhas judiciais, a Chisso foi obrigada a indenizar as vítimas, mas os efeitos da contaminação ainda afetam a população daquela região.
Monumento do Memorial ao Desastre de Minamata |
Referências
- http://www.cetem.gov.br/mercurio/semiquanti/por/caso_minamata.htm (Acessado em 08/04/2014as 10:47 )
- http://en.wikipedia.org/wiki/Minamata_disease (Acessado em 08/04/2014 as 10:21 )
- http://www.theregister.co.uk/2006/07/14/the_odd_body_minimata_disaster/ (Acessado em 08/04/2014 as 10:18 )
- http://www.japanfocus.org/-William-Underwood/2011 (Acessado em 08/04/2014 as 10:33 )
- http://www.nimd.go.jp/english/kenkyu/nimd_forum/nimd_forum_2010/session-C-4.pdf(Acessado em 11/04/2014 as 10:55)
- http://www.acpo.org.br/campanhas/mercurio/toxicidade.htm (Acessado em 13/04/2014 as 15:15)
- https://www.ff.up.pt/toxicologia/monografias/ano0708/g1_mercurio/metilme.html (Acessado em 13/04/2014 as 15:39)
- http://www1.umn.edu/ships/ethics/minamata.htm (Acessado em 13/04/2014 as 16:25)
- Desastre da Baia de Minamata, Pedro Coelho, Daniel Muiños, Thabata Guerreiro, Santos, SP ,2014
Sobre o autor
Olá meu nome é Pedro Coelho, eu sou engenheiro químico, engenheiro de segurança do trabalho e Green Belt em Lean Six Sigma. Além disso, também sou estudante de engenharia civil, e em parte de minhas horas vagas me dedico a escrever artigos aqui no ENGQUIMICASANTOSSP, para ajudar estudantes de Engenharia Química e de áreas correlatas. Se você está curtindo essa postagem, siga-nos através de nossas paginas nas redes sociais e compartilhe com seus amigos para eles curtirem também :)
1 Comentários de "Desastre da Baia de Minamata: Contaminação com metilmercúrio"
Ótima informação. Parabéns, Pedro!
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