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O que é fentanil – História, Indicação, e Efeitos Colaterais dessa Droga

O fentanil (C22H28N2O) é uma substância química potente que tem ganhado notoriedade tanto no meio médico quanto na esfera pública, especialmente devido ao seu envolvimento em crises de saúde pública relacionadas ao uso indevido de opioides.

O que é fentanil – História, Indicação, e Efeitos Colaterais dessa Droga

Desenvolvido originalmente para uso terapêutico como um analgésico de ação rápida e eficaz, o fentanil é hoje um dos opioides sintéticos mais potentes disponíveis, sendo utilizado no tratamento de dores intensas, especialmente em contextos hospitalares e oncológicos.

Neste texto, exploraremos a trajetória histórica dessa medicação, seu mecanismo de ação no organismo humano, e os efeitos colaterais que podem surgir com seu uso — aspectos fundamentais para compreender tanto os benefícios quanto os riscos associados ao fentanil.

Breve histórico da descoberta do fentanil e de outros analgésicos potentes


A história do fentanil começa com o belga Dr. Paul Janssen fundando a Janssen Pharmaceutica em 1953 com objetivo de desenvolver analgésicos potentes, eficazes e de ação rápida para enfrentar os desafios relacionados à dor naquela época.

foto do Dr. Paul Janssen que foi o descobridor do fentanil

Naquele ano, tanto a morfina quanto a meperidina já eram substâncias conhecidas e utilizadas. Janssen e sua equipe identificaram o anel de piperidina, presente em ambas as drogas, como a principal estrutura responsável pelo efeito analgésico, e por isso optaram por utilizar a meperidina (uma molécula estruturalmente mais simples) como ponto de partida para criar novos compostos.

Estruturas químicas da meperidina e da piperidina.
Estruturas químicas da meperidina e da piperidina.

O plano era descobrir substâncias que proporcionassem alívio da dor com mais eficácia e seletividade que a morfina ou a meperidina, minimizando efeitos adversos e aumentando a segurança do tratamento. 

A equipe observou que tanto a morfina quanto a meperidina tinham ação limitada e lenta por não atravessarem facilmente a barreira hematoencefálica. Para contornar isso, decidiram sintetizar derivados com maior lipossolubilidade, o que facilitaria a entrada no sistema nervoso central.

A estratégia envolveu modificar a estrutura da meperidina com diferentes componentes químicos (como anéis nitrogenados, grupos benzeno, metil, etil, entre outros), buscando não só aumentar a solubilidade em gordura, mas também melhorar a afinidade desses compostos com os receptores de dor, mesmo que o receptor μ ainda não tivesse sido identificado naquela época.

Assim, criaram diversas novas substâncias, que foram testadas para verificar potência e velocidade de ação.

Estrutura química da morfina
Estrutura química da morfina

Entre 1953 e 1957, a Janssen desenvolveu dezenas de analgésicos mais potentes e lipossolúveis, culminando na síntese da fenoperidina em agosto de 1957. Esse novo composto se mostrou 25 vezes mais forte que a morfina e mais de 50 vezes mais potente que a meperidina em testes com animais, tornando-se, então, o opioide mais potente do mundo.

Foi introduzido como um analgésico de ação rápida e curta duração em diversos países da Europa, embora não tenha sido lançado nos Estados Unidos, já que a empresa ainda não atuava lá. A fenoperidina continua em uso em alguns desses países até hoje.

Estrutura química da fenoperidina, um precursor do fentanil.
Estrutura química da fenoperidina, um precursor do fentanil.

Ainda na década de 1950, a equipe da Janssen seguiu trabalhando em novas versões da fenoperidina e, em 1960, sintetizou o fentanil. Este superou todos os anteriores em potência: era mais de 10 vezes mais potente que a fenoperidina e de 100 a 200 vezes mais potente que a morfina, com a maior lipossolubilidade já registrada (coeficiente octanol/água = 813). 

O fentanil apresentava início de ação extremamente rápido e um índice terapêutico sem precedentes entre os opioides da época. Inicialmente, o fentanil foi considerado útil apenas na forma intravenosa, já que nos primeiros estudos, realizados no início dos anos 1960, verificou-se que apenas 30 a 40% da substância era absorvida quando administrada por via oral, devido à degradação de 60 a 70% do composto.

Estrutura química do fentanil
Estrutura química da fentanil 

Indicação de uso e o princípio ativo do fentanil


O citrato de fentanila é o princípio ativo do medicamento Fentanil. Suas formas injetáveis, tanto intravenosa quanto intramuscular, são recomendadas para alívio da dor de curta duração durante as fases de indução, manutenção e recuperação da anestesia geral ou regional.

Essas injeções também podem ser administradas em combinação com um neuroléptico como pré-medicação, durante a indução ou como suporte na manutenção anestésica. Além disso, o fentanil injetável, quando associado ao oxigênio, é utilizado na anestesia de pacientes com alto risco cirúrgico.

As apresentações sublinguais (comprimidos e sprays), pastilhas transmucosas, comprimidos bucais, sistemas transdérmicos e sprays nasais de fentanil são indicadas para controlar episódios de dor irruptiva em pacientes oncológicos que já fazem uso contínuo de opioides para manejo da dor ao longo do dia.

Mecanismo de ação do fentanil


O fentanil atua ligando-se principalmente aos receptores opioides do tipo mu, que estão associados a proteínas G. Quando esses receptores são ativados, ocorre a substituição do GTP por GDP nessas proteínas, o que leva à inibição da enzima adenilato ciclase. 

Essa inibição reduz os níveis de AMPc dentro da célula, o que, por sua vez, diminui a entrada de íons cálcio dependentes de AMPc. Como consequência, a célula se torna hiperpolarizada, resultando na diminuição da atividade dos neurônios.

Efeitos Colaterais e contra indicações ao Fentanil


Assim como outros medicamentos, o fentanil pode provocar efeitos colaterais em algumas pessoas, embora muitos indivíduos não apresentem reações adversas ou manifestem apenas sintomas leves. Vale destacar que esses efeitos geralmente ocorrem após a administração de doses elevadas dessa medicação.

Os efeitos colaterais mais comuns do fentanil ocorrem em mais de 1 em cada 100 pessoas, sendo eles:

  • Constipação
  • Sensação de enjoo (náuseas ou vômitos)
  • Dor de estômago
  • Sensação de sonolência ou cansaço
  • Sensação de tontura ou vertigem
  • Confusão
  • Dores de cabeça
  • Coceira ou erupções cutâneas

Essa medicação é contraindicada em pessoas com alergia ou hipersensibilidade ao fármaco ou a outros opioides, bem como em pacientes que apresentam depressão respiratória significativa não controlada, pois o fentanil pode agravar essa condição. Também não deve ser administrado fora de ambientes hospitalares sem supervisão médica, devido ao risco elevado de overdose.

Pacientes com doenças respiratórias graves, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), devem evitar o uso do fentanil, assim como aqueles que estão utilizando medicamentos depressores do sistema nervoso central, como benzodiazepínicos, sem acompanhamento médico.

O fentanil também é contraindicado em casos de aumento da pressão intracraniana ou traumatismo craniano, pois pode mascarar sinais neurológicos importantes. Pessoas com distúrbios psiquiátricos graves não tratados, especialmente quando há risco de uso abusivo, também devem evitar esse medicamento. Além disso, seu uso pediátrico é restrito, sendo contraindicado em crianças menores de dois anos, exceto sob orientação médica específica.

É fundamental que o uso do fentanil seja acompanhado por monitoramento constante, especialmente em pacientes idosos, debilitados ou com comprometimento da função hepática ou renal. O risco de dependência e tolerância é elevado, mesmo quando utilizado de forma terapêutica. O fentanil pode causar depressão respiratória prolongada, sendo necessário que equipamentos de ressuscitação e antagonistas opioides estejam disponíveis durante seu uso.

Fentanil nos EUA


Como já vimos acima, O fentanil é uma substância que foi originalmente desenvolvida para fins médicos, sendo que que o mesmo é usado como analgésico potente em situações de dor intensa, como em pacientes com câncer ou após cirurgias.

No entanto, seu uso ilícito tem se tornado um problema grave de saúde pública. Produzido ilegalmente em laboratórios clandestinos, o fentanil é frequentemente misturado com outras drogas como heroína, cocaína ou tranquilizantes, e vendido em forma de pílulas falsificadas. Essa prática é extremamente perigosa, pois o fentanil é cerca de 100 vezes mais forte que a morfina, e uma dose letal pode ser menor que um grão de sal.

Organizações criminosas, como cartéis mexicanos, estão envolvidas na produção e distribuição ilegal dessa substância, especialmente para o mercado norte-americano. O resultado tem sido devastador: milhares de mortes por overdose, muitas vezes causadas por usuários que nem sabiam que estavam consumindo fentanil. Os efeitos incluem depressão respiratória, coma e morte rápida.

Fentanil no Brasil


No Brasil, o fentanil é utilizado principalmente em ambientes hospitalares como um anestésico potente, especialmente em cirurgias e cuidados intensivos. O país possui um sistema rigoroso de controle de medicamentos, o que dificulta o acesso não autorizado ao fármaco. Apesar disso, há registros de desvios e apreensões desde 2009, com casos em que o fentanil foi encontrado fora do ambiente médico, inclusive misturado a outras drogas como LSD, cocaína e canabinoides sintéticos.

Em 2023, por exemplo, a Polícia Civil do Espírito Santo apreendeu dezenas de frascos do medicamento em uma operação. Embora esses casos preocupem as autoridades, o Conselho Federal de Farmácia afirma que não há sinais de uma epidemia de opioides como a que ocorre nos Estados Unidos. Apenas uma pequena parcela da população brasileira relatou uso não prescrito de medicamentos controlados.

Mesmo assim, órgãos forenses e toxicológicos estão atentos a novas formas de apresentação da droga e investigam possíveis usos ilícitos. Como já foi mencionado mais acima, o fentanil é extremamente potente e chega a ser 100 vezes mais forte que a morfina, e uma dose letal pode ser de apenas 2 miligramas, o que torna o risco de overdose muito alto. Por isso, seu uso deve ser sempre supervisionado por profissionais de saúde e mantido sob controle rigoroso.

Referências


  • The Fentanyl Story,Stanley, Theodore H., The Journal of Pain, Volume 15, Issue 12, 1215 - 1226
  • https://www.jnj.com/our-heritage/meet-dr-paul-janssen-a-legend-in-pharmacology (acessado em 09/08/2025 as 14:23)
  • https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/politicas-sobre-drogas/sar-subsistema-de-alerta-rapido/4o_Informe_SAR02052023.pdf (acessado em 09/08/2025 as 14:38)
  • https://www.jnj.com/our-heritage/meet-dr-paul-janssen-a-legend-in-pharmacology (acessado em 10/08/2025 as 15:33)
  • https://www.poison.org/articles/what-is-fentanyl (acessado em 10/08/2025 as 16:11)
  • https://go.drugbank.com/drugs/DB00813 (acessado em 10/08/2025 as 20:22)
  • https://www.nhs.uk/medicines/fentanyl/side-effects-of-fentanyl/ (acessado em 10/08/2025 as 20:39)

Sobre o autor


Pedro Coelho Olá meu nome é , eu sou engenheiro químico com Pós Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho e também sou Green Belt em Lean Six Sigma. Além disso, eu conclui recentemente o curso de Engenharia Civil, e em parte de minhas horas vagas me dedico a escrever artigos aqui no ENGQUIMICASANTOSSP, para ajudar estudantes de Engenharia Química e de áreas correlatas. Se você está curtindo essa postagem, siga-nos através de nossas paginas nas redes sociais e compartilhe com seus amigos para eles curtirem também :)

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